Vinicius de Moraes me disse: "O maior de todos é Rimbaud." E Vinicius tinha lido tudo, e lido como grande poeta, sabia do que estava falando. Podem se preferir outros, mas interessa saber por que Vinicius achava isso. Sem dúvida por Rimbaud atingir em geral com imediata facilidade o lirismo, a metáfora, o real, o patos, além de não temer se expor, revelando uma angústia, uma dor, um grito, uma violência raramente expressos com tanto vigor e comunicabilidade. Rimbaud não é difícil, é leal e intenso. O pensamento pode não ser tão singular; de saída, deve muito a Verlaine. O artista está longe de ser impecável. Mas lê-lo é uma experiência pessoal; em momentos, uma vertigem. A vida de Rimbaud é tão inconvencional que estar a par do que viveu faz entender melhor o que escreveu. É o único poeta precoce, poeta mesmo, da literatura. Já aos dez anos faz uma redação cheia de imagens, vocabulário, energia. Aos doze manda versos em latim para a primeira comunhão do príncipe imperial. Aos treze lhe publicam três poemas em latim e outros em francês. Aos dezesseis já pinta o poeta Rimbaud. Essa precocidade em parte se explica pelo diálogo com amigos literários e em geral também de cama, Georges Izambard, Ernest Delahaye, sobretudo Paul Verlaine. O convívio cotidiano com esse grande poeta fez o garoto inteligente passar a criar a partir da sedimentada problemática estética do outro. Amando e se ferindo, beijando e se afastando, os dois, obcecados pela poesia, entram numa verdadeira torrente criativa. O nome completo é Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud e nasce em 1854 em Charleville.